Castelo Branco
Cidade capital da Beira Baixa, perto da fronteira espanhola e do rio Tejo, Castelo Branco possui uma zona medieval intra-muralhas bem definida, com um conjunto assinalável de vestígios de edificação sobretudo quinhentista resultante da fixação de judeus expulsos de Espanha da qual se estima ter resultado um aumento populacional de 60% e um enorme aumento de construção. No inventário mais recente registam-se 291 portados biselados dos quais 6 são em arco quebrado, 112 janelas biseladas, um conjunto muito significativo de lintéis de portas e janelas trabalhadas, 2 símbolos religiosos claramente judaicos (1 Menorah danificada com sobreposição de cruciforme e 1 Mesusah) e 63 cruciformes associados à presença de cristãos novos. Os vestígios da Menorah danificada com cruciforme sobreposto são visíveis na rua D'Ega nº. 10.
Já no fim do século XIV existem referências à existência de uma comunidade judaica e respectiva judiaria. Existiu uma sinagoga a qual se presume, ainda sem confirmação arqueológica, ter-se situado no actual nº. 10 da rua da Misericórdia.
A judiaria de Castelo Branco situava-se entre a Rua D'Ega e o troço norte das muralhas. Os seus dois eixos fundamentais eram a rua D'Ega no sentido (E-W) e o troço norte do que é hoje a rua da Misericórdia a partir do cruzamento com aquela rua.
Depois da data do decreto de expulsão (1496/7), a cidade tornou-se um importante centro de marranismo e de cristãos novos. A então vila de Castelo Branco (c.1443) foi o local de nascimento de Afonso de Paiva, explorador judeu designado por D. João II, para prospecionar por terras do oriente juntamente com Pêro da Covilhã, informações sobre o Caminho Marítimo para a Índia.
Algumas das figuras principais da história da medicina internacional, os judeus Amato Lusitano (1511-1568) e Elijah Montalto (1567-1616) que também aqui nasceram, foram duas das personalidades mais relevantes da sua época que mais contribuíram para as bases científicas da medicina no mundo.
No centro da cidade, junto do jardim das plantas medicinais de Amato Lusitano, foi erguida em 1956 frente à Câmara Municipal uma estátua de bronze à memória deste grande médico, da autoria do escultor Joaquim Martins Correia.
A influência do judaísmo e marranismo nesta cidade foi de tal que, na zona sul do próprio jardim dos bispos do Paço Episcopal, construída no período pombalino, a estátua do cardeal rei D. Henrique 1º. Inquisidor geral do reino, é tratada em tamanho desprezível e de rodapé, tal como as dos reis Filipes.
Quanto à estátua de Moisés, encimando a cascata do mesmo nome, é pelos seus pés que passa a água, símbolo de fonte da vida que irriga todo o jardim, no qual com a nova organização espacial criada pelo 1º. Bispo de Castelo Branco, Moisés tornou-se simbolicamente a sua figura mais proeminente, ainda que recuada e pouco visível em todo o conjunto, colocando em segunda ordem a figura de S. João Batista do Deserto, o profeta do cristianismo. Também o culto ao Espírito Santo, DEUS UNO, tão arreigado ao marranismo dos cristãos novos, está simbolizado na estatuária do Jardim do Paço através da figura da rainha santa Isabel com o cordão da ordem franciscana, introdutora deste culto em Portugal e o tanque com as três coroas da festa dos Impérios.
Durante os séculos XVI, XVII e XVIII, foram levantados 400 processos na inquisição dentro da área intra-muralhas da vila, por denúncia de judaísmo, contra naturais ou moradores de Castelo Branco, dos quais resultaram 14 mortos. Desses, cita-se o caso de Maria Gomes, idosa de 117 anos, a vítima da inquisição mais idosa que se conhece. Quer nas localidades próximas da vila, quer no estrangeiro, algumas centenas mais de albicastrenses foram vítimas deste tribunal da igreja; cita-se o caso do irmão de Amato Lusitano, Joseph Oheb (José Amato), que a 13 de Abril de 1556 em Ancona/Itália, foi morto na fogueira.
Fonte: Rede Judiarias de Portugal.
Voltar - As Localidades